Umbanda têm Fundamento, Umbanda têm História...
É preciso conhecer, É preciso estudar...
Todo Cristão conhece a história de Cristo e do Cristianismo, todo Judeu conhece a história de Moisés e do Judaísmo, todo Muçulmano conhece a história de Mohamed (Maomé) e do Islamismo, os três grupos têm em comum o patriarca Abraão também conhecido por todos; todo Budista conhece a história de Sidharta Gautama (Buda) e do Budismo, todo Hare Khrishna conhece a história de Krishna, e nós Umbandistas?
Conforme disse o Caboclo das Sete Encruzilhadas:
“Umbanda é a manifestação do espírito para caridade”
Muitos de nós entendem que basta a prática da caridade sem esclarecimento ou informação do que é a Umbanda enquanto religião.
O esclarecimento religioso inclui no mínimo sua liturgia e base histórica. Estas informações são necessárias para dar ao praticante mais tranqüilidade e segurança da religião que assumiu, podendo falar mais sobre ela, desmistificando conceitos e assumindo o Orgulho de ser Umbandista.
A Umbanda não é instituída, possui muitos órgãos representativos incluindo federações e associações, logo não há um histórico oficial e este nosso despretensioso ensaio servirá para esclarecer. Longe de nós a pretensão de oficializar a história da Umbanda, queremos apenas compartilhar algumas informações que consideramos muito importantes ao estudioso de Umbanda, que tem a sede do saber.
História é tudo aquilo que está registrado (escrito, fotografado ou filmado), assim iremos recorrer ao que os primeiros Umbandistas deixaram registrado em publicações, ou seja, os primeiros livros e relatos da Religião de Umbanda. Livros que são parte de sua história onde na maioria das vezes os autores foram umbandistas atuantes.
Zélio de Moraes não escreveu nada sobre si ou sobre a religião que teve seu inicio em 15 de Novembro de 1908.
Em 1904, o livro “As Religiões do Rio”, escrito por João do Rio, apresenta um estudo aprofundado dos cultos no Rio de Janeiro e em momento algum aparece a palavra Umbanda, o que endossa que nem a religião de Umbanda, nem a palavra, eram presentes no Rio de Janeiro, onde nasceu a Umbanda.
Os primeiros textos sobre a Umbanda aparecem em um livro chamado “No Mundo dos Espíritos”, em 1925, uma coletânea de reportagens feitas pelo Jornalista Leal de Souza para o vespertino da época chamado “A Noite”, onde aparece, entre outras, uma reportagem do Centro Tenda Nossa Senhora da Piedade com o Médium Zélio de Moraes.
Leal de Souza era médium na Tenda Nossa Senhora da Piedade e por orientação de Zélio de Moraes e do Caboclo das Sete Encruzilhadas, se tornaria o dirigente da Tenda Nossa Senhora da Conceição.
O primeiro livro de Umbanda foi publicado em 1933 por Leal de Souza e recebeu o nome de “O Espiritismo, a Magia e as Sete Linhas de Umbanda”, neste livro há um capitulo (Cap. 23) intitulado “O Caboclo das Sete Encruzilhadas”, onde o autor que conviveu muitos anos com o fundador da Umbanda fala um pouco sobre a entidade, veja abaixo:
“Se alguma vez tenho estado em contato consciente com algum espírito de luz, esse espírito é, sem duvida, aquele que se apresenta sob o aspecto agreste, e o nome bárbaro de Caboclo das Sete Encruzilhadas.
Sentindo-o ao nosso lado, pelo bem estar espiritual que nos envolve e sensibiliza, pressentimos a grandeza infinita de Deus, e, guiados pela sua proteção, recebemos e suportamos os sofrimentos com uma serenidade quase ingênua, comparada ao enlevo das crianças, nas estampas sacras, contemplando a beira do abismo, sob as asas de um anjo, as estrelas do Céu.
O Caboclo das Sete Encruzilhadas pertence à falange de Ogum, e, sob a irradiação da Virgem Maria, desempenha uma missão ordenada por Jesus. O seu ponto emblemático representa uma flecha atravessando um coração, de baixo para cima; - A flecha significa a direção, o coração é o sentimento e o conjunto – orientação dos sentimentos para o alto, para Deus...
Entre a humildade e a doçura extremas, a sua piedade se derrama sobre quantos o procuram, e não poucas vezes, escorrendo pela face do médium, as suas lágrimas expressam a sua tristeza, diante dessas provas inevitáveis a que as criaturas não podem fugir...
A linguagem do Caboclo das Sete Encruzilhadas varia, de acordo com a mentalidade de seus auditórios. Ora chã, ora simples, sem um atavio, ora fulgurante nos arrojos da alta eloqüência, nunca desce tanto, que se abastarde, nem se eleva demais, que se torne inacessível.”
Em Novembro 1971, por ocasião do 63 aniversário da Tenda Nossa Senhora da Piedade a Senhora Lilia Ribeiro, Diretora do “Boletim Macaia” e da “Tenda de Umbanda Luz, Esperança e Fraternidade” – TULEF – gravou a mensagem abaixo dada de viva voz pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas. O texto foi colhido no livro “Umbanda Cristã e Brasileira” de Jota Alves de Oliveira / Ed. Ediouro. A mensagem reflete os conceitos estabelecidos, desde o princípio, 1908, pela Entidade Caboclo das Sete Encruzilhadas e por Zélio de Moraes, veja abaixo:
“A Umbanda tem progredido e vai progredir. É preciso haver sinceridade, honestidade, e eu previno sempre aos companheiros de muitos anos: a vil moeda vai prejudicar a Umbanda; médiuns que vão se vender e que serão, mais tarde expulsos, como Jesus expulsou os vendilhões do templo”.
O perigo do médium homem é a consulente mulher; do médium mulher é o consulente homem. É preciso estar sempre de prevenção, porque os próprios obsessores que procuram atacar as nossas casas fazem que toque alguma coisa no coração da mulher que fala ao Pai de Terreiro, como ao coração do homem que fala à Mãe de Terreiro. É preciso ter muito cuidado e haver moral, para que a Umbanda progrida.
Umbanda é humildade, amor e caridade – essa é a nossa bandeira .
Neste momento, meus irmãos, me rodeiam diversos espíritos que trabalham na Umbanda do Brasil: Caboclos de Oxossi, de Ogum, de Xangô. Este que vos fala, porém, é da falange de Oxossi, meu Pai, e não veio por acaso; trouxe uma ordem, uma missão.
Meus irmãos: Sejam humildes, tenham amor no coração, amor de irmão para irmão, que as vossas mediunidades ficarão mais puras, servindo aos espíritos superiores que venham a baixar entre vós; é preciso que os aparelhos estejam sempre limpos, os instrumentos afinados com as virtudes que Jesus pregou na Terra, para que tenhamos boas comunicações e proteção para aqueles que vêm em busca de socorro nas casas de Umbanda.
Meus irmãos: Este aparelho já está velho, com 80 anos a fazer, mas começou antes dos 18. Posso dizer que o ajudei a casar, para que não estivesse a dar cabeçadas, para que fosse um médium aproveitável e que, pela sua mediunidade, eu pudesse implantar a nossa Umbanda.
A maior parte dos que trabalham na Umbanda, se não passaram por esta Tenda, passaram pelas que saíram desta Casa.
Tenho uma coisa a vos pedir: Se Jesus veio ao planeta terra na humilde manjedoura, não foi por acaso. Assim o Pai determinou. Podia ter procurado a Casa de um portentado da época, mas foi escolher aquela que havia de ser a sua mãe, esse espírito que viria a traçar a humanidade os passos para obter Paz, Saúde e Felicidade.
Que o nascimento de Jesus, a humildade em que ele baixou a Terra, a estrela que iluminou aquele estábulo, sirvam de exemplos, iluminando os vossos espíritos, tirando os escuros de maldade por pensamento, por práticas e ações; que Deus perdoe as maldades que possam ter sido pensadas, para que a Paz possa reinar em vossos corações e nos vossos lares.
Fechai os olhos para a casa do vizinho; fechai a boca para não murmurar contra quem quer que seja; não julgueis para não serdes julgados; acreditai em Deus e a Paz entrará em vosso lar. È dos Evangelhos.
Eu, meus irmãos, como o menor espírito que baixou à Terra, mas amigo de todos, numa concentração perfeita dos companheiros que me rodeiam neste momento, peço que eles sintam a necessidade de cada um de vós e que, ao sairdes deste Templo de caridade, encontreis os caminhos abertos, vossos enfermos melhorados e curados e a saúde para sempre em vossa matéria.
Com um voto de Paz, Saúde e Felicidade, com Humildade, Amor e Caridade, sou e serei sempre humilde Caboclo das Sete Encruzilhadas”.
MATÉRIA EXTRAÍDA DO JUS – JORNAL DE UMBANDA SAGRADA
Por Alexandre Cumino
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